segunda-feira, 30 de abril de 2012


AIRAS NUNES 
I BIOGRAFIA
Clérigo (como nos informa a rubrica atributiva das suas composições), provavelmente galego, cuja atividade se situará nos finais do reinado de Afonso X e inícios do reinado de Sancho IV (1284-1289). Na verdade, por um documento da chancelaria deste último monarca, ficamos, a saber, que, em 1284, Airas Nunes terá sido beneficiado com duas quantias em dinheiro para a compra de um cavalo e de roupas, doação que parece relacionar-se com a cena de violência que nos relata numa das suas cantigas. A levarmos em conta a referência que nessa mesma cantiga faz aos seus cabelos canos, já não seria um jovem por essa época. Pelo menos duas outras composições suas podem igualmente ser datadas: a cantiga de amigo em faz referência à peregrinação de Sancho IV a Santiago (1286), e a cantiga de escárnio em que refere o conflito entre D. Sancho e os infantes de La Cerda (1289), e onde defende claramente as posições do rei castelhano.
Trovador culto como nos indica o seu perfeito domínio das formas e ainda o seu gosto pela citação (nomeadamente provençal), Airas Nunes terá estado, pois, ao serviço de D. Sancho IV, embora os dados referidos sejam os únicos que dele possuímos até à data.

II CANTIGAS

A Santiag'em romaria vem
 (Cantiga de Amigo)

Achou-s'um bispo que eu sei um dia
(Cantiga de Escárnio e maldizer)

Amor faz a mim amar tal senhor
(Cantiga de Amor)

- Bailade hoje, ai filha, que prazer vejades
(Cantiga de Amigo)

Bailemos nós já todas três, ai amigas
(Cantiga de Amigo)

Desfiar enviaram ora de Tudela
(Escárnio e Maldizer)

Falei noutro dia com mia senhor
(Cantiga de Amor)

Nostro Senhor! e por que foi veer
(Cantiga de Amor)

O meu senhor o bispo, na Redondela, um dia
(Escárnio e Maldizer)

Oí hoj'eu ũa pastor cantar
(Pastorela)

Par Deus, coraçom, mal me matades
(Cantiga de Amor)

Porque no mundo mengou a verdade
(Sirventês moral)

Que muito m'eu pago deste verão
(Cantiga de Amor)

Vi eu, senhor, vosso bom parecer

(Cantiga de Amor)


III ANÁLISE DE UMA CANTIGA
Bailemos nós ja todas tres, ai amigas,
so aquestas avelaneiras frolidas
e quen for velida, como nós, velidas,
     se amigo amar,
so aquestas avelaneiras frolidas
     verrá bailar.

Bailemos nós ja todas tres, ai irmanas,
so aqueste ramo destas avelanas
e quen for louçana, como nós, louçanas
     se amig'amar,
so aqueste ramo destas avelanas
     verrá bailar.

Por Deus, ai amigas, mentr'al non fazemos,
so aqueste ramo frolido bailemos
e quen ben parecer, como nós parecemos,
     se amig'amar,
so aqueste ramo so'l que nós bailemos
     verrá bailar.

Esta cantiga é amigo com a temática bailia, onde que o eu lírico participa de uma dança. Nesta cantiga, o eu lírico chama suas amigas (ou irmãs) para bailarem nas avelaneiras floridas, e quem for fremosa e bela igual á elas, também irá bailar.
Nesta cantiga, contém cobras (versos), estribilho ( “verrá bailar”) e paralelismos (“Bailemos nós ja todas tres, ai amigas,/ Bailemos nós ja todas tres, ai irmanas,) e como já mencionado, é uma cantiga de bailia.
É uma cantiga muito semelhante  uma outra de João Zorro, Bailemos agora, por Deus, ai velidas. Podendo qualquer dos autores ter retomado a cantiga do outro, parece mais provável que tenha sido Airas Nunes a retomar uma anterior composição de Zorro, até pelo evidente gosto que o trovador mostra por este processo, visível em diversas outras cantigas suas. Mas também é possível, que ambos tivessem partido de uma composição tradicional. Segue abaixo, a cantiga de João Zorro:

Bailemos agora, por Deus, ai velidas,
so aquestas avelaneiras frolidas
e quen for velida como nós, velidas,
     se amigo amar,
so aquestas avelaneiras frolidas
     verrá bailar.

Bailemos agora, por Deus, ai loadas,
so aquestas avelaneiras granadas
e quen for loada como nós, loadas,
     se amigo amar.
so aquestas avelaneiras granadas
     verrá bailar.

IV VÍDEOS DA CANTIGA




V MANUSCRITO
 Airas Nunes - Bailemos nós já todas três, ai amigas - Cacioneiro da Biblioteca Nacional  B 879 
 Airas Nunes - Bailemos nós já todas três, ai amigas - Cacioneiro da Vaticanal  V 462 

VI REFERÊNCIAS









JOÃO ZORRO



I BIOGRAFIA

Jogral talvez português, que terá exercido a sua atividade no reinado de D. Dinis, provavelmente nos seus anos iniciais. A existência do seu apelido na documentação portuguesa e as referências repetidas que faz a Lisboa nas suas composições parecem confirmar estes coordenadas espacio-temporais. Não localizamos dados precisos sobre sua biografia.



II AS CANTIGAS


1 - Bailemos agora, por Deus, ai velidas

(Cantiga de Amigo)


2 - Cabelos, los meus cabelos
(Cantiga de Amigo)


3 - El-rei de Portugale
(Cantiga de Amigo)


4 - Em Lixboa, sobre lo mar
(Cantiga de Amor)


5 - Jus'a lo mar e o rio
(Cantiga de Amigo)


6 - Mete el-rei barcas no rio forte
(Cantiga de Amigo)


7 - Os meus olhos e o meu coraçom
(Cantiga de Amigo)


8 - Pela ribeira do rio
(Cantiga de Amigo)


9 - Pela ribeira do rio salido
(Cantiga de Amigo)


10 - Per ribeira do rio
(Cantiga de Amigo)


11 - Quem visse andar fremosĩa
(Cantiga de Amigo)


III ANÁLISE DA CANTIGA




El-rei de Portugale 
barcas mandou lavrare,
e lá irá nas barcas sigo,
mia filha, o voss'amigo.

El-rei portugueese
barcas mandou fazere,
e lá irá nas barcas sigo,
mia filha, o voss'amigo.

Barcas mandou lavrare
e no mar as deitare,
e lá irá nas barcas sigo,
mia filha, o voss'amigo.

Barcas mandou fazere
e no mar as metere,
e lá irá nas barcas sigo,
mia filha, o voss'amigo.


Trata-se de uma cantiga de amigo, do tema barcarola. Encontramos nesta poesia em sua estrutura, dois cobras e um estribilho (refrão), características das cantigas de amigo. Esta poesia, o eu lírico é informado de uma navegação que sairá de Portugal, e que seu amado irá nesta embarcação. O eu lírico recebe esta informação a cada momento em que uma etapa da construção da embarcação é finalizada, até a hora em que se coloca nas águas. Não temos a expressão de sentimentos avassalador ou alguma reação do eu lírico á receber essas informações da partida do amado.



IV MANUSCRITO




El-rei de Portugale - Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1153


Página 1






El-rei de Portugale - Cancioneiro da Vaticana - V 755


Página 2






VI REFERÊNCIAS










domingo, 29 de abril de 2012


MARTIM CODAX

I BIOGRAFIA

Jogral de Vigo, literariamente ativo em meados do terceiro quartel do século XIII, a sua produção poética despertou a atenção dos estudiosos quando, em 1915, o livreiro espanhol Pedro Vindel reproduziu um pergaminho, de fins do século XIII ou princípios do século XIV, contendo sete cantigas de amigo de Martin Codax, seis das quais acompanhadas da respetiva notação musical. O cancioneiro codaciano, legado pelo Pergaminho de Vindel e pelos Cancioneiros da Vaticana e da Biblioteca Nacional, é considerado um dos mais representativos da escola trovadoresca peninsular. Essas sete composições parecem, pela unidade sequencial que as une, compor um ciclo poético-narrativo protagonizado pelo sujeito enunciativo feminino, constituindo, para G. Tavani (Tavani, 1989, p. 302), uma espécie de texto unitário que se organiza "numa sucessão serial, coerente e acabada, com valor aparente de canto de expectativa lograda, mas, na realidade, expressão de um desejo frustrado - porque irrealizável - e da progressiva passagem de confiante esperança para a contristada resignação de uma mulher que procurara tornar real, concreto, um sonho de amor constituído sobre os topói da tradição poética da cantiga de amigo".

II AS CANTIGAS

Ai Deus, se sab'ora meu amigo
 (Cantiga de Amigo)

Ai ondas que eu vim veer
(Cantiga de Amigo)

Eno sagrado em Vigo
 (Cantiga de Amigo)

Mandad'hei comigo
 (Cantiga de Amigo)

Mia irmana fremosa, treides comigo
(Cantiga de Amigo)

Ondas do mar de Vigo
 (Cantiga de Amigo)

Quantas sabedes amar amigo
(Cantiga de Amigo)

III ANÁLISE DE UMA CANTIGA

Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
E ai Deus, se verrá cedo!

Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
E ai Deus, se verrá cedo!

Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
E ai Deus, se verrá cedo!

Se vistes meu amado,
por que hei gran cuidado!
E ai Deus, se verrá cedo!
(MARTIM CODAX)

Esta cantiga é de AMIGO, ou seja, autoria masculina e eu lírico feminino. Partiremos agora a evidenciação da estrutura.
Nesta cantiga,  constata-se que contém cobras (versos), estribilho ( refrão) "E ai Deus, se verrá cedo!", paralelismos "se vistes meu amigo!'/ "se vistes meu amado", esta cantiga o eu-lírico dialoga com o mar, sendo assim, podemos dividi-lo em Cantiga de Barcarola.
O eu-lírico, que fora abandonado pelo seu amado, pergunta para o mar se viu o seu amor ( amado/amigo), percebe-se que eu lírico sofre pela ausência, e pedes para que o traga de volta, para ela cuidar. Percebe-se que o eu lírico não tem resposta sobre seu amado, diferente da cantiga "Ai flores o verde pino" que as flores mostram á resposta do amado.

IV VÍDEO DA CANTIGA


V MANUSCRITO

 Ondas do Mar de Vigo  (Martim Codax) - Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1278 (01)
 Ondas do Mar de Vigo  (Martim Codax) - Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1278 (02)
 Ondas do Mar de Vigo  (Martim Codax) - Cancioneiro da Vaticana - V 884
 Ondas do Mar de Vigo  (Martim Codax) - Pergaminho Vindel  - Nº 1

VI REFERÊNCIAS













sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pai Gomes Charinho "As ffroles do meu amigo"

BOA NOITE, 

ENCONTREI UM VÍDEO DE UMA CANTIGA DE AMIGO, PRODUZIDO PELO 



TROVADOR PAIS GOMES, E GOSTARIA DE POSTAR VOCÊS!









SEGUE LETRA DA CANTIGA:




a flores de mi amigo briosas van en el navío.y se van bien las flores de aquí con mis amores,se han ido bien las flores de aquí con mis amores.Las flores de mi amado briosas van en el barco.Y se van bien las flores de aquí con mis amores,se han ido bien las flores de aquí con mis amores.Briosas van en el navío para llegar al campo de batalla.Y se van bien las flores de aquí con mis amores,se han ido bien las flores de aquí con mis amores.Briosas van en el barco para llegar al combate.
Y se van bien las flores de aquí con mis amores,se han ido bien las flores de aquí con mis amores.Para llegar al campo de batalla por servirme, doncella hermosa.Y se van bien las flores de aquí con mis amores,se han ido bien las flores de aquí con mis amores.Para llegar al combate por servirme, doncella alabada.Y se van bien las flores de aquí con mis amores,se han ido bien las flores de aquí con mis amores.




Tradução:




Flores do meu amigo lá ir animada no navio.

E assim deixar essas flores daqui com meu amor,as flores são bem embora daqui com o meu amor.Minhas flores dos amados  ir animada no barco.E assim deixar essas flores daqui com meu amor,as flores são bem embora daqui com o meu amor.Eles vão animada no navio para vir para o ofendido.E assim deixar essas flores daqui com meu amor,as flores são bem embora daqui com o meu amor.Eles vão animada no barco para vir para o ferido.E assim deixar essas flores daqui com meu amor,as flores são bem embora daqui com o meu amor.Para vir para o ofendido para servir-me, a empregada bonita.E assim deixar essas flores daqui com meu amor,as flores são bem embora daqui com o meu amor.Para vir para o ferido para me servir, meu elogiou empregada.E assim deixar essas flores daqui com meu amor,as flores são bem embora daqui com o meu amor.


           PAIO GOMES CHARINHO


I BIOGRAFIA

Trovador galego, ativo nas últimas décadas do século XIII. Nascido numa linhagem da pequena nobreza sediada em Pontevedra, Paio Gomes Charinho foi gradualmente adquirindo importância na corte castelhana, acabando por assumir cargos de relevo na corte da Sancho IV. Tendo talvez participado na conquista de Sevilha (1248), segundo nos informa a inscrição da sua sepultura (mas inscrição que pode ser apenas encomiástica), é durante a década de 80 que a sua ascensão social é mais visível, muito particularmente depois da subida ao trono de D. Sancho, cujo partido tomou nas lutas que este último manteve com seu pai, Afonso X, nos últimos anos do seu reinado. Assim, a partir de 1284, para além de se tornar seu privado, assume o cargo de Almirante do Mar, pelo menos até 1286. Nesse ano, acompanha Sancho IV na sua peregrinação a Santiago de Compostela, onde parece ter ficado talvez na sequência de qualquer desacordo com o monarca. Seja como for, em 1290 aparece com o cargo de meririnho-mor da Galiza. Após a morte de D. Sancho (1295), intervém nas disputas relacionadas com o complicado processo da sua sucessão, acabando por ser assassinado, nesse mesmo ano, por Rui Peres Tenoiro (irmão do trovador Mem Rodrigues Tenoiro).
  

II AS CANTIGAS


1.     A dona que home "senhor" devia
(Cantiga de Amor)
2.     A mia senhor, que por mal destes meus
(Cantiga de Amor)
3.     Ai Santiago, padrom sabido
(Cantiga de Amigo)
4.     As frores do meu amigo
(Cantiga de Amigo)
5.     Coidava-m'eu, quand'amor nom havia
(Cantiga de Amor)
6.     Disserom m'hoj', ai amiga, que nom
(Cantiga de Amigo)
7.     Dizem, senhor, ca dissestes por mi
(Cantiga de Amor)
8.     Dom Afonso Lopes de Baiam quer
(Cantiga de Escárnio e maldizer)
9.     Mia filha, nom hei eu prazer
(Cantiga de Amigo)
10.   Muitos dizem com gram coita d'amor
(Cantiga de Amor)


11.   Tanto falam do vosso parecer
(Cantiga de Amor)


12.   Senhor fremosa, pois que Deus nom quer
(Cantiga de Amor)


III ANÁLISE DE UMA CANTIGA



Pois mia ventura tal é, pecador!

, que eu hei por molher mort'a prender 

,muito per devo a Deus a gradecer

 e a servir, enquant'eu vivo for

;porque moiro, u mentira nom há 

,por tal molher, que quen'a vir dirá 

que moir'eu bem morrer por tal senhor.  

 

Ca, pois eu hei tam gram coita d'amor 

de que já muito nom posso viver, 

muit'é bem saberem, pois eu morrer, 

que moiro com dereit' - e gram sabor 

hei eu desto; mais mal baratará,

 pois eu morrer, quem mia senhor verá

,ca morrerá como eu moir'ou peor.    

 

Ca nom há no mundo tam sofredor 

que a veja que se possa sofrer

 que lhe nom haja gram bem de querer.

 E por esto baratará melhor: 

non'a veer; ca rem nom lhe valrá 

e per força bem assi morrerá 

com'eu moiro, de bem desejador 

 

.Mais eu, que me faço conselhador

 doutros, devera pera mim prender

 tal conselho! Mais forom-mi-o tolher 

meus pecados, porque vi a melhor 

molher que nunca naceu nem será. 

 E moiro por ela! Pero que há? 

Moiro mui bem, se end'é sabedor 

 

ela, pero sei que lhe plazerá 

de mia morte – ca nom quis, nem querrá,

 nem quer que eu seja seu servidor.


Esta cantiga não contém refrão, então se trata de uma cantiga maestria. Evidenciamos nesta cantiga, um grande sofrimento do eu lírico em relação ao senhor (sua amada), assim este sofrimento se estabelece como coita, onde jamais poderá ser idealizado, devido ao fato que sua amada é de alta estirpe social e ele um servo. O eu lirico característica o seu amor pela senhora como um pecado, mas um pecado bem aventurado, pois ele acha que amar uma senhora como esta é um pecado, exaltando sua grandeza ao extremo e que se fosse morrer por ela, ele morreria feliz ou se fosse pra viver, ele á serviria com prazer. O eu lírico também expressa esse amor avassalador, nos sentimentos que sua senhora reflete nele, como se á ver triste, provoca nele uma tristeza sem fim, pois ele deseja o maior dos bons sentimentos para sua amada. Vemos também que a senhora nem se importa por seu servo, e ele mesmo reflete isso no trecho "ela, pero sei que lhe plazerá de mia morte – ca nom quis, nem querrá,nem quer que eu seja seu servido".




IV MANUSCRITO




Pois mia ventura tal é, pecador! -   Cancioneiro da Ajuda - A 253


 Página 1





VI REFERÊNCIAS


quarta-feira, 25 de abril de 2012


AFONSO SANCHES


I BIOGRAFIA



Infante português, filho bastardo de D. Dinis e de D. Aldonça Rodrigues da Telha, D. Afonso Sanches terá nascido por volta de 1288, tendo falecido em Castela, no decorrer do cerco de Escalona, em finais de 1328. Ao longo do primeiro quartel do século XIV, foi uma das figuras centrais da corte de seu pai, com quem parece ter tido uma relação muito próxima. Pouco antes de 1307, casa com D. Teresa Martins, filha do primeiro conde de Barcelos, D. João Afonso de Albuquerque. Ostentando já o título de senhor de Albuquerque, aparece-nos, em Outubro desse ano, a ajudar o pai na governação. O casamento com a rica herdeira que era D. Teresa aumentou consideravelmente o seu património (já vasto, pelas doações do pai), tornando-o um dos senhores mais poderosos do reino. Culminando um percurso de ascensão, a partir de 1213 passa a desempenhar o cargo de mordomo-mor do reino.
Juntamente com a sua política de centralização régia, este favoritismo de D. Dinis em relação ao seu filho Afonso Sanches é um dos motivos centrais do conflito que, a partir de 1318, opõe violentamente o monarca ao seu legítimo herdeiro, o infante Afonso, conflito que dividiu a nobreza portuguesa e conheceu numerosos episódios de guerra aberta, ensombrando os últimos anos do seu longo reinado. Pouco antes da morte de D. Dinis, em 1224, as duas partes chegam a um acordo provisório, mediante o afastamento de Afonso Sanches, que se retira para os seus domínios em Castela. Mas logo após a morte de D. Dinis, uma das primeiras medidas de Afonso IV é o confisco de todos os bens, rendas e benefícios conferidos por seu pai ao seu meio-irmão, que retalia com algumas incursões armadas em território português. O conflito só termina por volta de 1328, através da mediação da rainha D. Isabel, que obtém a devolução dos bens confiscados, morrendo Afonso Sanches pouco depois, como se disse.
Está sepultado, juntamente com sua mulher, no mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde, mosteiro por eles fundado em 1318, e ao qual doaram numerosos bens.


II AS CANTIGAS



Afons'Afonses, batiçar queredes
(Escárnio e Maldizer)

Conhocedes a donzela
(Escárnio e Maldizer)

De vos servir, mia senhor, nom me val
(Cantiga de Amor)

Dizia la fremosinha:
(Cantiga de Amigo)

Estes que m'ora tolhem mia senhor
(Gênero incerto)

Mia senhor, quem me vos guarda
(Gênero incerto)

Muitos me dizem que servi doado
(Cantiga de Amor)

Pero eu dixe, mia senhor
(Cantiga de Amor)

Pois que vós per i mais valer cuidades
(Escárnio e Maldizer)

Quand', amiga, meu amigo veer
(Cantiga de Amigo)

Sempre vos eu doutra rem mais amei
(Cantiga de Amor)

Tam grave dia que vos conhoci
(Cantiga de Amor)

Um ric'home a que um trobador
(Escárnio e Maldizer)

- Vaasco Martins, pois vós trabalhades
(Tenção)

Vedes, amigos, que de perdas hei
(Cantiga de Amor)


III ANÁLISE DE UMA CANTIGA:



Conhocedes a donzela
por que trobei, que havía
nome Dona Biringela?
Vedes camanha perfía
e cousa tan desguisada:
des que ora foi casada,
chaman-lhe Dona María.

D'al and'ora máis nojado,
se Deus me de mal defenda:
estand'ora segurado
un, que maa morte prenda
e o Demo cedo tome,
quis-la chamar per seu nome
e chamou-lhe Dona Ousenda.

Pero se ten por fremosa
máis que s'ela, por Deus, pode,
pola Virgen gloriosa,
un home que fede a bode
e cedo seja na forca,
estand'a cerrar-lhe a boca,
chamou-lhe Dona Gondrode.

E par Deus, o poderoso,
que fez esta senhor minha,
d'al and'ora máis nojoso:
do demo dũa meninha,
que aquel homen de Çamora,
u lhe quis chamar senhora,
chamou-lhe Dona Gontinha.

Esta cantiga é de maldizer e maestria (sem refrão). D. Afonso Sanches faz um elaborado jogo com o sentido etimológico de vários nomes próprios femininos, pelos quais, segundo ele, uma donzela recém-casada ia sendo sucessivamente conhecida. As alusões são evidentemente maliciosas, mas o mau estado do texto nos manuscritos e a nossa ignorância do contexto, só nos permitem ter uma ideia aproximada do sentido deste brinquedo poético em forma de charada. Damos, nas notas, algumas sugestões quanto ao possível sentido destes nomes próprios. Também a referência a Zamora poderá não ser inocente.


IV MANUSCRITO

      Conhocedes a donzela - Cacioneiro da Biblioteca Nacional - B415
        Conhocedes a donzela - Cacioneiro da Vaticana - V26 (01)
Conhocedes a donzela - Cacioneiro da Vaticana - V26 (02)  

VI REFERÊNCIAS