"Muitos acreditam que a cantiga trovadorescas, apenas tiveram suas repercussões na Idade Media, mas ainda hoje, em nossa cultura contemporânea, encontramos vestígios dessa escola literária. Segue abaixo um artigo sobre a musica de Caetano Veloso 'Queixa', onde retoma características das cantigas de amor."
A Lírica Trovadoresca na Música Popular Brasileira
De Maria Alzenir Alves Rabelo Mendes
Na cantiga de amor, o eu-lírico expressa-se na voz masculina, mas
dirige-se à musa, referindo-a por “mia senhor” como se ela, na posição senhor
feudal, fosse a dona absoluta de sua vontade. Nessa composição poética, a
linguagem é mais elaborada por se ambientar no espaço do palácio, onde o
trovador, além de prestar honra servil, deve zelar pela reputação da mulher
que, geralmente, é casada e de condição superior, sendo, portanto, o objeto do
desejo inalcançável do vassalo:
Um amor assim
delicado
Você pega e
despreza
Não o devia ter
despertado
Ajoelha e não reza
Dessa coisa que
mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único
culpado
Disso eu tenho
certeza
Princesa, surpresa,
você me arrasou
Serpente, nem sente
que me envenenou
Senhora, e agora me
diga onde eu vou
Senhora, serpente,
princesa
Um amor assim
violento
Quando torna se
mágoa
É o avesso de um
sentimento
Oceano sem água
Princesa, surpresa,
você me arrasou...
A canção, “Queixa”,
de Caetano Veloso, apresenta componentes formais e temáticos que a inserem na
categoria de cantiga de amor. Composta em quadras e redondilhas entrecruzadas,
arrematadas por um refrão reforçador do motivo da cantiga: a “coita” do
eu-poético pelo amor não merecido, causa do um “penar” já cantado por outros
tantos trovadores à moda de D. Diniz: “Tam grave dia que vos conhoci,/ por
quanto mal me vem por vós, senhor!”
A tormenta do
vassalo diante da impossibilidade de alcançar seu objeto de desejo, na música
de Caetano Veloso, é simbolizada pela “serpente”, metáfora da paixão sedutora à
que o eu-lírico sucumbe. O sentimento, antes “delicado”, polido por um código
de honra cortês, é agora conflitado entre a superioridade da senhora e a
divindade jovial da princesa entre as quais se interpõe um componente de perdição,
a carnalidade da mulher, a quem compete parte da culpa por essa “coisa que mete
medo”, a paixão inflamada e reprimida, o “avesso do sentimento”, traduzindo um
amor fatal.
Referências:
Muito bom, gente!! Legal ver que as cantigas que estudamos em aula ainda estão bem vivas e em vozes brasileiras :)
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