quarta-feira, 25 de abril de 2012


AFONSO SANCHES


I BIOGRAFIA



Infante português, filho bastardo de D. Dinis e de D. Aldonça Rodrigues da Telha, D. Afonso Sanches terá nascido por volta de 1288, tendo falecido em Castela, no decorrer do cerco de Escalona, em finais de 1328. Ao longo do primeiro quartel do século XIV, foi uma das figuras centrais da corte de seu pai, com quem parece ter tido uma relação muito próxima. Pouco antes de 1307, casa com D. Teresa Martins, filha do primeiro conde de Barcelos, D. João Afonso de Albuquerque. Ostentando já o título de senhor de Albuquerque, aparece-nos, em Outubro desse ano, a ajudar o pai na governação. O casamento com a rica herdeira que era D. Teresa aumentou consideravelmente o seu património (já vasto, pelas doações do pai), tornando-o um dos senhores mais poderosos do reino. Culminando um percurso de ascensão, a partir de 1213 passa a desempenhar o cargo de mordomo-mor do reino.
Juntamente com a sua política de centralização régia, este favoritismo de D. Dinis em relação ao seu filho Afonso Sanches é um dos motivos centrais do conflito que, a partir de 1318, opõe violentamente o monarca ao seu legítimo herdeiro, o infante Afonso, conflito que dividiu a nobreza portuguesa e conheceu numerosos episódios de guerra aberta, ensombrando os últimos anos do seu longo reinado. Pouco antes da morte de D. Dinis, em 1224, as duas partes chegam a um acordo provisório, mediante o afastamento de Afonso Sanches, que se retira para os seus domínios em Castela. Mas logo após a morte de D. Dinis, uma das primeiras medidas de Afonso IV é o confisco de todos os bens, rendas e benefícios conferidos por seu pai ao seu meio-irmão, que retalia com algumas incursões armadas em território português. O conflito só termina por volta de 1328, através da mediação da rainha D. Isabel, que obtém a devolução dos bens confiscados, morrendo Afonso Sanches pouco depois, como se disse.
Está sepultado, juntamente com sua mulher, no mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde, mosteiro por eles fundado em 1318, e ao qual doaram numerosos bens.


II AS CANTIGAS



Afons'Afonses, batiçar queredes
(Escárnio e Maldizer)

Conhocedes a donzela
(Escárnio e Maldizer)

De vos servir, mia senhor, nom me val
(Cantiga de Amor)

Dizia la fremosinha:
(Cantiga de Amigo)

Estes que m'ora tolhem mia senhor
(Gênero incerto)

Mia senhor, quem me vos guarda
(Gênero incerto)

Muitos me dizem que servi doado
(Cantiga de Amor)

Pero eu dixe, mia senhor
(Cantiga de Amor)

Pois que vós per i mais valer cuidades
(Escárnio e Maldizer)

Quand', amiga, meu amigo veer
(Cantiga de Amigo)

Sempre vos eu doutra rem mais amei
(Cantiga de Amor)

Tam grave dia que vos conhoci
(Cantiga de Amor)

Um ric'home a que um trobador
(Escárnio e Maldizer)

- Vaasco Martins, pois vós trabalhades
(Tenção)

Vedes, amigos, que de perdas hei
(Cantiga de Amor)


III ANÁLISE DE UMA CANTIGA:



Conhocedes a donzela
por que trobei, que havía
nome Dona Biringela?
Vedes camanha perfía
e cousa tan desguisada:
des que ora foi casada,
chaman-lhe Dona María.

D'al and'ora máis nojado,
se Deus me de mal defenda:
estand'ora segurado
un, que maa morte prenda
e o Demo cedo tome,
quis-la chamar per seu nome
e chamou-lhe Dona Ousenda.

Pero se ten por fremosa
máis que s'ela, por Deus, pode,
pola Virgen gloriosa,
un home que fede a bode
e cedo seja na forca,
estand'a cerrar-lhe a boca,
chamou-lhe Dona Gondrode.

E par Deus, o poderoso,
que fez esta senhor minha,
d'al and'ora máis nojoso:
do demo dũa meninha,
que aquel homen de Çamora,
u lhe quis chamar senhora,
chamou-lhe Dona Gontinha.

Esta cantiga é de maldizer e maestria (sem refrão). D. Afonso Sanches faz um elaborado jogo com o sentido etimológico de vários nomes próprios femininos, pelos quais, segundo ele, uma donzela recém-casada ia sendo sucessivamente conhecida. As alusões são evidentemente maliciosas, mas o mau estado do texto nos manuscritos e a nossa ignorância do contexto, só nos permitem ter uma ideia aproximada do sentido deste brinquedo poético em forma de charada. Damos, nas notas, algumas sugestões quanto ao possível sentido destes nomes próprios. Também a referência a Zamora poderá não ser inocente.


IV MANUSCRITO

      Conhocedes a donzela - Cacioneiro da Biblioteca Nacional - B415
        Conhocedes a donzela - Cacioneiro da Vaticana - V26 (01)
Conhocedes a donzela - Cacioneiro da Vaticana - V26 (02)  

VI REFERÊNCIAS















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