Cantiga de Escárnio: a sátira implícita.
Segundo MOISES (1995,pg. 23) A cantiga de escárnio é aquela em que a sátira se constrói indiretamente por meio da ironia e do sarcasmo, usando "palavras cobertas, que hajam dois entendimentos para lhe lo não entenderem".
A cantiga de escárnio, quanto a de maldizer, eram escritas pelos trovadores que se compunham poesia lírico-amorosa, segundo MOISES (1995, pg. 23) expressavam, como é fácil depreender, o modo de sentir e de viver próprio de ambientes dissolutos , e acabaram por ser canções e via boêmia e escorraçada, que encontrava nos meios frascários e tabernários seu lugar ideal.
Utilizavam-se de expressões licenciosas ou de baixo-calão, utilizando a pornografia ou o mau gosto, não possuindo valor estético.
Donzela, quen-quer entendería
que vós mui fremosa parescedes;
se assí é, como vós dizedes,
no mundo vosso par non havía;
ha un que i vosso par houvesse:
quen a meu cuu concela posesse,
de parescer ben vencer-vos-ía.
Vós andades dizend'en concelho
que sobre todas parescedes ben;
e, con tod'esto, non vos vej'eu ren,
pero poedes branqu'e vermelho;
mais, sol que s'o meu cuu de si pague
e poser un pouco d'alvaiade,
reveer-s'-á convosco no espelho.
Donzela, vós sodes ben talhada,
se no talho erro non prendedes
ou en essa saia que vós tragedes;
e, pero sodes ben colorada,
quen ao meu cuu posesse orelhas
e lhi ben tingesse as sobrancelhas,
de parescer non vos devera nada.
que vós mui fremosa parescedes;
se assí é, como vós dizedes,
no mundo vosso par non havía;
ha un que i vosso par houvesse:
quen a meu cuu concela posesse,
de parescer ben vencer-vos-ía.
Vós andades dizend'en concelho
que sobre todas parescedes ben;
e, con tod'esto, non vos vej'eu ren,
pero poedes branqu'e vermelho;
mais, sol que s'o meu cuu de si pague
e poser un pouco d'alvaiade,
reveer-s'-á convosco no espelho.
Donzela, vós sodes ben talhada,
se no talho erro non prendedes
ou en essa saia que vós tragedes;
e, pero sodes ben colorada,
quen ao meu cuu posesse orelhas
e lhi ben tingesse as sobrancelhas,
de parescer non vos devera nada.
(Pedro d'Armea)
O eu-lírico percebe-se que a Donzela se sente melhor do que os outros e assim ignorando á todos que ela acha "menores". Aparenta-se que eu eu-lírico viu ela andando e percebeu que essa Donzela é uma pessoa arrogante.
O trovador não revela o nome da dama, utiliza-se do termo "Donzela" para deixar implícito á sua identidade.
Ele utiliza a palavra esdrúxula " cuu", para representar que ela não é melhor do que os outros. Primeiramente, ele diz que o cuu dele é mais bonita do que a cara dela, depois o eu-lírico vai dizer que ela poderá usar qualquer maquiagem, que se aparecerá o cuu dele e finalizando, pode colocar orelhas, sobrancelhas que ainda a cara dela vai aparentar-se como o cuu dele.
Referências:
MOISÉS, Massaud. A Literatura
Portuguesa. São Paulo: Cultrix, 1995
Cantiga: http://pt.wikisource.org/wiki/Donzela,_quen-quer_entender%C3%ADa
Imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFXm5x73dAZIy4hECE-8vwGo_8vK0pWQ-nepTGtZB5maV2pMWA08KE1snluBdFN5jQ2ZnPNCi44lTpjmCk_T-HzuvVRpem98Y-gw3uVHboeHCVMzWDPiW52-h1NWzwC4ld3dCLIPyPSj1M/s1600/trovador.jpg
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